08 março 2010

Dia Internacinal da Mulher

"Muitas pessoas perguntam hoje, qual o sentido de comemorar o Dia Internacional da Mulher. Muitas mulheres sentem-se até de certa forma ofendidas como o dia, como se fossem inferiores e precisassem de um dia especial a si dedicado, uma espécie de epitáfio/esmola sem sentido nem sentimento…

Mas afinal, onde é começou este dia, e qual o propósito?

Há 153 anos, no dia 8 de Março de 1857, teve lugar aquela que terá sido, em todo o mundo, uma das primeiras acções organizadas por trabalhadores do sexo feminino. Centenas de mulheres das fábricas de vestuário e têxteis de Nova Iorque iniciaram uma marcha de protesto contra os baixos salários, o período de 12 horas diárias e as más condições de trabalho. Durante a greve deu-se um incêndio que causou a morte a cerca de 130 manifestantes.
Em 1903, profissionais liberais norte-americanas criaram a Women’s Trade Union League. Esta associação tinha como principal objectivo ajudar todas as trabalhadoras a exigirem melhores condições de trabalho.

Em 1908, mais de 14 mil mulheres marcharam nas ruas de Nova Iorque: reivindicaram o mesmo que as operárias no ano de 1857, bem como o direito de voto.

Será que as feministas/socialista de há 100 anos atrás teriam noção do que seria a sociedade de hoje? Será que elas teriam noção que as mulheres conseguiriam, pois claro, a plena integração no mercado de trabalho e a total emancipação?

Certamente se espantariam de saber que após todas estas conquistas, as mulheres ainda seriam discriminadas em pleno séc. XXI pelas questões biológicas e de género…

Se há mais de 150 anos o motivo que levou as mulheres à rua era claro – trabalho e direitos iguais para homens e mulheres – a verdade é que na sociedade de hoje temos tendência para pensar facilmente que já não há injustiças de género e que as mulheres ocupam lugares de topo no trabalho. Como se estivesse tudo bem.

Mas não está. As mulheres, ainda que plenamente integradas no mercado de trabalho e ocupando lugares de topo, sofrem enormes pressões. As que são mães, não podem dedicar-se integralmente a essa condição, precisamente pelas limitações que o trabalho e as responsabilidades profissionais lhes impõem. As que não são mães, vêm muitas vezes os seus projectos de maternidade adiados devido ao peso que o trabalho ocupa nas suas vidas, e à possibilidade (nada remota) de serem despedidas ou substituídas quando engravidarem.

Quem nunca ouviu as histórias de entrevistas de emprego, onde se pergunta a uma mulher se tem filhos, e em caso de resposta negativa, se está a pensar engravidar? Será que fazem a mesma pergunta se for um homem: “O Senhor, está a pensar engravidar a sua companheira?…”

Estas situações passam-se em qualquer empresa respeitável, aos olhos de toda a gente, e com o conhecimento de todos, e essa situação, só por si, seria o suficiente para justificar a existência do dia de hoje.

Depois, por outro lado, temos as mulheres que abdicam de carreiras profissionais para se dedicarem a 100% à maternidade. São poucos os apoios que encontram por parte da sociedade, e esbarram muitas vezes com a perplexidade dos que as rodeiam, por terem deixado carreiras promissoras, para estarem em casa “sem fazer nada”, ou serem domésticas.

Por aqui se vê a preconceito que existe relativamente aquelas que fazem trabalho doméstico (leia-se na sua casa, cuidando da sua família): este é visto como um trabalho menor e nada valorizado (não há ordenado, não há férias, não há descontos para a segurança social) e como sendo um último recurso para quem não consegue um emprego.

É fácil percebermos, nos meandros do feminismo do séc.XXI, que o que condiciona as mulheres, e as torna discriminadas relativamente aos homens, são sem dúvida as questões biológicas. As mulheres (ainda) são as únicas capazes de gerar vida, e abnegadamente geram um novo ser durante 9 meses. E são essas discriminações que a mim, particularmente, mais me interessam combater…

Os direitos da mulher durante a gravidez e parto estão ainda longe de ser uma realidade, tanto nos países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos e industrializados.

As complicações decorrentes da gravidez e parto são a maior causa da mortalidade feminina no mundo. Nos países pobres e subdesenvolvidos, não há serviços de saúde disponíveis e as mulheres acabam por morrer de complicações que seriam facilmente resolvidas por uma parteira ou enfermeira especialista. Noutros casos ainda, são os homens que vedam o acesso das mulheres aos cuidados de saúde, por questões de crenças, baixos rendimentos ou até exercício desmedido de controlo e poder.

Nos países desenvolvidos a realidade é outra, ainda que a discriminação continue. Os cuidados de saúde são cada vez menos de acesso universal, e quem tem dinheiro para pagar é quem fica melhor servido. Por outro lado, os negócios das companhias de seguros e indústria farmacêutica, têm sucessivamente colocado os seus interesses financeiros à frente dos direitos das mulheres. Milhares de cesarianas são feitas anualmente no Brasil e EUA, por exemplo, sem qualquer justificação médica, apenas porque é um procedimento mais bem pago e feito em menor tempo, trazendo consequentemente maior rentabilidade aos prestadores de cuidados. Um pouco por todo o mundo industrializado, há cada vez mais mulheres a sofrerem de complicações graves decorrentes de partos demasiado instrumentalizados e traumáticos, e as taxas de mortalidade materna têm vindo a subir à medida que vemos as cesarianas a aumentar

Por todas estas realidades, continua a ser preciso lutar por mais direitos. É já em Setembro de 2010 que se irá discutir em Estrargurbo: “Birth Is a Human Rights Issue”. O nascimento é uma questão de Direitos Humanos.

Hoje, como há 150 anos atrás, é importante dar voz e visibilidade às mulheres."

Por Rita Correia aqui

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