06 maio 2009

O que é afinal Humanização?

Na Grande Reportagem "9 Meses Depois" apresentada pela SIC vimos e ouvimos uma senhora defender que não lhe agradava o termo humanização, simplesmente porque naquele serviço não ajudavam a nascer macacos mas humanos. Bastará a presença de seres humanos para considerarmos este serviço hospitalar um serviço humanizado? Esta senhora disse outra coisa curiosa, que só podia respeitar a mulher até certo ponto, e aqui deixei de ter qualquer dúvida que esta senhora primeiro não faz ideia do que significa o termo HUMANIZAÇÃO, e segundo é péssima no uso do português falado.

Quando se diz que só podemos respeitar a mulher até certo ponto percebemos imediatamente que esse serviço hospitalar está longe de ser humanizado. É sempre possível, e imperativo, que se respeite a mulher em trabalho de parto(e já agora todos os utentes dos nossos serviços hospitalares). E respeitá-la é tão simples quanto informá-la dos procedimentos que se estão a realizar, deixá-la ser acompanhada por quem ela desejar, apresentar-se e pedir permissão para se fazer um toque vaginal, resguardá-la de "mirones" como a senhora da limpeza e outros profissionais curiosos, etc., etc., e muitos etcs. mais. Ou seja, regras básicas da boa educação...

Mas Humanização do Parto é muito mais do que isso. Humanização do Parto é entender o papel de protagonista da Mulher. Entender que quem pare é a Mulher e não a equipa hospitalar. Que Ela é responsável pelo seu corpo, pelas suas opções, e sabe sem sombra de dúvidas o que é melhor para si e para o seu bebé nesse momento, em vez de a tratar como uma tontinha idiota e inconsequente. Perceber que todos os aparelhos, maquinetas, tecnologias não serão nunca tão perfeitos quanto o corpo feminino para parir uma criança.





“When I use a word”, Humpty Dumpty said, in rather a scornful tone, “it means just what I choose it to mean- neither more nor less” (CARROLL, 1960: 188)

Para o dicionário, humanização é o ato de humanizar, que por sua vez significa:

1. Tornar humano; dar condição humana a; humanar.

2. Tornar benévolo, afável, tratável; humanar.

3. Fazer adquirir hábitos sociais polidos; civilizar.

4. Bras., CE. Amansar (animais).

5. Tornar-se humano; humanar-se.


Esta primeira consulta semântica leva-nos à pergunta: o quê é o humano? Será que podemos neste começo de século assumir que é humano o que é afável, benévolo, como diz o Aurélio? Ou o que é manso? Ou que ainda precisaríamos civilizar-nos? (...)

Quem pretende explicar a existência de hospitais como uma organização destinada a tratar do corpo biológico se equivoca, cometendo uma redução. Ainda que nos hospitais prime uma ênfase nos processo curativos que operam sobre o corpo (biológico), eles mantêm sua condição de produto social, e de espaço de trocas inter-subjetivas. Trocas que acontecem sobre os corpos, nos corpos e além dos corpos biológicos. O sujeito está numa mesa cirúrgica, anestesiado: ele está nesse momento reduzido ao grau máximo de coisificação, de corpo biológico puro. Contudo não foi assim dez minutos antes, nem o será dez minutos depois da operação. Nem estão reduzidos ao nível de máquinas os outros humanos que ali estão trabalhando. Alguém já se imaginou sendo operado por um cirurgião que na noite anterior teve uma terrível briga com a amante? Neste momento deve haver 500 cirurgias acontecendo nessas circunstâncias... A enfermeira diluindo potássio enquanto pensa no filho doente... Essas coisas acontecem o tempo todo! (...)

Mas será que o homem pode projetar-se a si mesmo como seu próprio eidos (ideal), já que é evidente que o homem não dispõe de si mesmo como o artesão dispõe da matéria com a qual trabalha? O conceito de phronesis (prudencia) é então analisado, sendo distinguido do de tekne. Uma tekne se aprende e pode se esquecer, mas na aplicação (das leis por exemplo) Aristóteles não fala de tekne e sim de phronesis.(...)

Dada uma tekne(técnica), é preciso aprendê-la e com isso saber-se-á escolher os meios idôneos, o saber ético requer, sempre, buscar conselho consigo próprio. Portanto, para esse autor(Gadamer, 1997), é falso que com a expansão do saber técnico poder-se-ia prescindir do saber ético.(...)"
Ler também "Humanização do Parto: Qual o Verdadeiro Significado?" por Ricardo Herbert Jones

1 comentário:

Amos2526 disse...
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