19 fevereiro 2010

A Luta que temos em nós Mulheres!

Eu não consigo dizer(tudo) isto melhor.

Aconselho este livro a todas e todos. Devorei-o assim que o recebi, e a cada linha apeteceu-me transcrevê-lo para aqui. Mesmo o texto que vos deixo por muito que me esforçasse não consegui que ficasse mais curto :)
Foi esta a revelação que tive quando me embrenhei no movimento de humanização do parto, que esta é a verdadeira luta feminista dos nossos tempos. E é por isso que não vou arredar pé!!!

"Durante longos séculos as mulheres foram condenadas à maternidade como única forma de: conseguirem um lugar no paraíso(a outra alternativa seria serem freiras ou beatas); receber protecção e respeito; obter dinheiro e status; ter acesso a um nível social superior e alcançar o poder. Quando o movimento feminista surgiu, o primeiro papel feminino a ser questionado foi justamente o da maternidade. Inúmeros livros foram escritos para mostrar a mutilação mental, social e emocional da mulher mãe e, sobretudo, se fez questão de extirpar a crença maléfica de que esta seria uma função natural da mulher, uma vocação baseada na sua própria natureza. Demonstrou-se que a ideia de existência de um instinto maternal nada mais é que uma construção cultural, usada como historinha para subjugar as mulheres e mantê-las ocupadas, em casa, em meio a crianças berrantes, enquanto o mundo é administrado pelos homens. E eu aqui estou, para escândalo de sociólogas e antropólogas, a levantar Deusas e arquétipos que tanta afinidade têm com os famigerados instintos...


Considero realista a perspectiva descrita acima e suas conclusões uma etapa fundamental do processo de libertação feminina, libertação, inclusive, não terminada. Não só. Vejo ainda hoje mulheres usando a maternidade como forma de promoção social, ou de assegurar-se a continuidade de um casmaneto em crise, ou simplesmente um modo para encontrar algum sentido na vida, presas como estão no desespero que vem da falta de oportunidades e de identidade num mundo ainda antifeminino. Corresponde também à realidade que sermãe, de uma certa forma, tira as mulheres do palco da história e das decisões "importantes". É inegável que não se pode cuidar de um bebé e ao mesmo tempo conduzir um país ou uma empresa. As mulheres até tentam, mas há um preço muito alto a pagar e, talvez, no final de contas, o sacrifício não valha a pena. Se é verdade que precisamos ter tempo de qualidade com os nossos filhos, é também um facto indiscutível que presença e tempo físico real são pré-requisitos indispensáveis para o sucesso de qualquer relação: seja com um filho ou com um projecto de trabalho. No final da históri, somos uma, o dia só tem 24h e nossas energias têm limites. Não há como fantasiar esta realidade.


Entretanto, apesar desta e doutras questões insolúveis que se arrastam há décadas, apesar dos malabarismos e dos esforços inumanos que as mulheres fazem para serem mães sem mudar o contexto no qual vivem, estamos diante de um fenómeno novo, uma embrional, mas, possivelmente, irreversível, virada que bem podemos chamar de feminista e que tem na maternidade seu marco estratégico.


O movimento pela humanização do parto questiona o papel passivo da mulher diante do atendimento obstétrico tradicional. Esta postura, entretanto, sabemos que não se origina no gabinete do médico, mas tem suas raizes na histórica e induzida falta de pensamento crítico e cidadania, na ausência de informação, no preconceito de género, na discriminação racial e social; e, last but not least, no desumano sistema económico em que vivemos, que coloca o lucro acima de qualquer valor humano, incluindo a vida. Ao incentivar a mulher a ter um parto activo, estamos, querendo ou não, despertando um processo que começa antes do parto - numa gestação informada e preparada - e que, inevitavelmente, reflectir-se-à no pós-parto, arrastando consigo muitas das questões latentes que afligem a vida de tantas mulheres em massacrantes triplas jornadas de trabalho.(...)


Uma maternidade que quer ser a continuação de um parto humanizado precisa rever seu paradigma de base. A mãe, informada e activa durante a gestação e parto, estará agora frente ao desafio de fazer da criação de seus filhos um processo também activo e consciente. O casal se estrutura em torno de um novo pólo de referência no qual aprendeu a agir em primeira pessoa e a tomar decisões pertinentes, tornando-se sujeito participativo e questionador. A selecção cuidados das informações perpetua nesta nova etapa. O incómodo pelas restrições do plano de saúde, do médico, do atendimento do SNS e do hospital particular vai continuar nas novas perguntas que dizem respeito à realidade da vida, às horas de trabalho e de trânsito, à comida que se come, ao ar que se respira, às vacinas e medicamentos que se tomam sem pensar. Enfim, à qualidade de vida. Como para as questões do parto, não existem soluções prontas. Da mesma forma como hoje em dia há poucas opções disponíveis e reais paraum parto natural, domiciliar, activo e economicamente acessível, as alternativas de trabalho e de vida enforcam as mulheres entre limites e obrigações dolorosas e cruéis. Sem aparente solução.


Entretanto, é graças à inquietação e insastifação que novos caminhos se abrem, novas ideias surgem e verdades imperituras emergem. A inquietação que marcou a gestação e fez a mulher mudar de rumo deve manter-se viva no pós-parto como atitude constante. O facto de não se enxergar uma solução não quer dizer que ela não existe, quem sabe seja este nosso próximo parto: o de trazer à luz um estilo de vida satisfatório, que dê conta das necessidades e desejos que temos agora. Este espírito de revolta e, ao mesmo tempo, de criação é um elemento benéfico para todo o conjunto social, uma vez que se precisa com sempre mais urgência de cidadãos conscientes e participativos para a construção de um futuro melhor.(...)


É na maternidade que as vísceras femininas podem unir-se ao intelecto -Deméter e Artémis com Atena - e, desta união alquímica dos contrários por excelência, há de nascer, quando bem conduzida e suportada, a faísca que junto a muitas e muitas outras produz o salto quântico do qual todos precisamos."


1 comentário:

Marta Lima disse...

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